quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

TEMPESTADES

Que suas tempestades... seja uma breve ventania,
que a chuva torrencial... vire brisa,
que as trovoadas... transmudem em acordes musicais,
e os relâmpagos que brilham e deslumbram... desvaneçam,
e tudo volte a ser... calmaria.
Mas, se até lá... o temporal teimar em ficar mais um tanto,
e se ver sozinho...
nunca deixe de desdenhar a solidão,
dispa-se, desnuda-se por inteiro,
vire pelo reverso, pelo avesso... se, preciso for,
aclare esses segredos aí... na alma,
escondidos, infiltrados nessas suas lonjuras,
na imensidão dos seus entardeceres,
na lucidez das suas loucuras,
no silencio do seu amor.
E se essas intempéries... impor um novo caminho,
não hesite... em atravessá-lo, enfrente as vicissitudes,
vá... sem qualquer certeza,
se não conseguir ver a direção,
siga o vento... o perfume do talvez,
vá... onde seus olhos se encantam,
onde outros amores te recebam,
e sintam... o que você tem de melhor,
a sua mais delicada porção.
Mas... se mudarem o seu destino, o ponto de chegada,
ou ofuscarem os seus devaneios...
que possa... se achar ao meio desses temporais,
e rastelar as folhas secas,
recolher os galhos ressequidos no chão,
e preencher esses vazios abissais.
E se... os caminhos se cruzarem,
e perdido... e na dúvida não ter um rumo a seguir,
ver esvaziar o horizonte, ficar a esmo,
faça brotar alma adentro, faça reacender a sua luz,
o que de entranhável reside em si mesmo.
Existir é... essa temeridade, esse desatino,
é esse equilibrar-se a beira dos abismos,
perder-se ao meio da ilusão,
achar-se no acaso das circunstâncias,
e continuar sem aflição.
Que... todas as vezes que acabar o caminho,
possa... se encontrar depois do medo, com suas verdades,
com outros sonhos... em outro alinho,
permitindo a alma fazer novas escolhas,
sem criar novas tempestades.
Que... todas as vezes que descompassada ficar a vida,
tenha coragem de continuar feliz,
e... se, lhe tirarem a estrada, atravesse o mar,
e... se, quebrarem as velas, atreva-se... a nadar,
nem que seja... entre as ondas e o rochedo,
entre o vento... e o próprio medo.

Ari Mota


domingo, 8 de novembro de 2015

TEMPO DE QUIETAR

Minha alma às vezes tenta sair de mim,
travamos às vezes discussões silenciosas,
ela grita comigo, sem sequer... soltar uma voz,
esmurra-me... sem me ferir, querendo ir à frente,
e... eu a arrasto para dentro... sem tocá-la,
a olho... com olhos de amor,
e depois, sentamos à beira dos nossos abismos,
das nossas loucuras e lucidez,
ela me abraça delicadamente,
e eu a confidencio, que a amo... demasiadamente,
e peço-lhe... aquieta-te menina... fica aqui... até o fim.
E assim ando vivendo... um deleite de acasos,
resiliência desmedida,
estreiteza que me engrandece,
angústia que não me... alcança,
inquietação que me... equilibra,
aflição que me... fortalece.
Minha alma às vezes tenta sair de mim,
eu imploro que fique... estou no meu melhor instante,
este é o meu tempo de quietar,
e preciso de companhia.
Errei... muito pouco... é hora de repousar com as escolhas,
abrandar os passos, nos novos caminhos,
colocar sossego no desespero,
sentir... mais que falar,
olhar... mais que julgar,
achar-me... mais que me perder,
revirar-me pelo avesso... desvendar quem eu sou.
Amo... mais o intangível, essas coisas inexplicáveis,
amo... poesia, estrelas, borboletas em festa,
amo... uma louca bailarina que baila comigo,
em noites de solidão,
o colibri que me visita todos os dias,
a singeleza... do olhar,
a candura das... reticências
a verdade nos... pontos finais,
e as incertezas para aonde... vou.
Minha alma às vezes tenta sair de mim,
e levar os sonhos que tive, e os que... ainda terei,
tomo-lhe as mãos... saio a passear aqui por dentro.
E olhando para trás...  
faço ver... que fizemos tudo do nosso jeito,
fomos por diversas vezes ao chão,
e em vôo rasante... levantamos outras tantas,
e assim... edificamos o que tenho de interior.
E depois, houve uma pausa... um vazio... um nada talvez,
e assim... serenamos nossas tempestades,
pactuamos que...  é tempo de quietar,
de ter mansidão...
silenciar.
A não ser o... amor.

Ari mota


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A ANGELITUDE DA ALMA

Custou-me... uma vida,
uma eternidade talvez,
mas... escapei desses transtornos dissociativos da alma,
consegui ter apenas uma... “uma que me habita”,
que me faz ser... o que sou,
faz-me... ouvir o som do meu silencio,
me inunda de angelitude,
e tem estado ao meu lado,
toma as minhas mãos... e vai... aonde vou.
E quando me vejo... só,
ela sorrateira... ancora-me, ao meio dos temporais,
prepara-me...  para conviver com as minhas dúvidas,
acompanha-me... nas vezes que vou até a esquina e volto,
com medo da dureza do caminho,
e me ergue... quando quase exaurido... tento desistir,
e sabendo...  que nunca me adaptei ao escuro,
só com a luz,
acende os holofotes... dentro de mim,
e sem ter onde esconder...
passo para fora... para a vida... passo dos meus limites,
e vou... enfrentar os meus vendavais.
E quando me vejo... frágil,
quase partindo... partindo de mim,
partindo dos sonhos,
indo embora dos sentimentos,
minha alma... mais lúcida... que eu,
faz-me... desapegar do temor de ser feliz,
derrubar muros e edificar pontes,
às vezes imaginárias... invisíveis aos olhos dos comuns,
sem se arrepender das escolhas,
dos descaminhos,
e nem extasiar com os triunfos,
e me confidencia... que tudo é uma preparação para o fim.
Custou-me... um instante,
um acaso talvez,
mas... não escapei da angelitude da minha alma,
essa energia... que me devora,
que me mantém na freqüência dos anjos,
na vibração da vida,
faz-me evoluir... não sei como?
- Antes de ir embora.

Ari Mota


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

ANDO... CARREGANDO LEVEZA

Houve um tempo... que, quis juntar coisas,
ser o melhor de todos,
ser erudito em demasia,
e desfilar com essas trivialidades,
essas pequenezas que se compram em qualquer esquina.
Houve um tempo... que, quis colecionar medalhas,
vencer todas as batalhas,
coligir inimigos,
e conviver com esses despojos de... vaidades,
essas fraquezas... de quem nunca se obstina.
Mas... eu vim para ser resiliente,
teimar mais um pouco
insistir mais um tanto.
E há tempos... descobri que o melhor de mim,
o melhor da minha alma,
e olha... foi por simples teimosia,
que perdido na infinitude do meu silêncio,
achei... o meu amor,
e hoje, é só o que tenho, e o que posso lhe dar.
Mas... saiba, ele pode preencher os seus vazios,
avivar os seus sonhos,
restaurar o seu melhor,
segurar a sua pressa,
abraçar os seus medos,
colocar delicadeza na sua dor.
Mas... saiba, ele pode lhe oferecer serenidade,
mas também... atrevimento para começar de novo,
e pode inundar de força... suas ausências,
colorir suas noites de solidão,
e caminhar ao seu lado para sempre,
sem ajudá-lo a levar coisas... isso é muito pouco,
vou ao seu lado para sentir todas as suas... emoções,
essas grandezas escondidas na sua alma,
dentro de você.
E há tempos...  deixei de juntar coisas,
venho carregando leveza,
candura,
e o que posso fazer por você,
além do meu amor,
é te elevar...
e na descoberta...
fazê-lo encontrar... o melhor que pode ser.

Ari Mota


terça-feira, 11 de agosto de 2015

TATUAGENS NA ALMA

Que as cicatrizes... permaneçam guardadas na alma,
não... o faça agoniar diante de muitos,
e que... qualquer vestígio de dor,
qualquer estrago no sonho,
sejam esquecidos dentro de si mesmo,
virem... silêncio,
e se... saírem ao rosto... que sejam em... risos,
se... caírem nos lábios... que virem... leveza,
se... transformar em ausência... que seja só... de coisas,
e nunca... de amor.
Que as cicatrizes... não te rasgue por dentro,
mas, que cheguem em... sutileza... e te aperfeiçoe,
que nunca te desfigure... mas, o reedite... para melhor,
e desconstrua o medo que tens... do adverso,
e permita reencenar o caminho... sonhar,
e manter sempre incandescida... a luz da alma,
para não atemorizar com o próximo passo,
nem que seja ele... o último,
nem que seja ele... uma ilusão,
e que nunca... hesite em continuar.
Que as cicatrizes... permaneçam guardadas na alma,
virem tatuagens... marcas dos combates,
e nunca... lamento,
se... explicitas ficarem nos olhos... que possam brilhar em demasia,
e se... em descuido soçobrarem em noites de solidão,
que sejam para provar com exemplos... a sua valentia,
e que, depois de tudo... existir... foi-lhe em leitura... um alento.
Que possa tatuar na alma... o que viveu na pele,
que o seu sussurro... seja inaudível,
e o ranger da vida... imperceptível,
e sua coragem... se revele.
 
Ari Mota


quarta-feira, 22 de julho de 2015

AINDA... DÁ TEMPO

Às vezes... por um descuido,
em uma dessas curvas do destino,
o cansaço... chega a nos alcançar,
a dúvida toma de assalto os nossos sonhos,
e entorpecidos pelos excessos,
podemos... afogar na própria solidão.
Às vezes... inadvertidos,
e nessa efêmera busca... das coisas,
e sozinho... as vezes, nos perdemos pelo caminho,
e ao acaso... não sabemos desassombrar a própria luz,
nem se reacender de dentro para fora,
nem se preparar para uma nova dimensão.
E assim...
todas as vezes que nos achamos desnecessário,
necessário é transmudar a alma, despertar.
E que saibamos... que ainda... dá tempo,
de incendiar o brilho dos olhos,
e se... achamos... exíguo os dias,
ou que tudo esteja em cima da hora,
o que nos resta é apoderar de toda a emoção,
antes de ir embora.
E se nossos argumentos estão ficando escassos:
Que tenhamos a coragem... para sermos felizes,
e em silêncio... abreviar a nossa estupidez.
Que saibamos ouvir as estrelas, se emocionar com a poesia,
se encantar com a beleza que deslumbra uma melodia.
Que saibamos fazer... da nossa resiliência... intemporal,
e possamos transcender de todos os nossos medos,
e que finalmente, nossa delicadeza seja múltipla,
nossa vida seja um palco que modele a sensatez,
que saibamos resgatar a nós mesmos... dos vazios,
que tenhamos mais... recomeço... e menos final.
Ainda... dá tempo...
De desistir... das vaidades, da vigilância, do julgo fácil,
da fé que nos limita, da critica que nos destrói,
do choro que suplica,
do rótulo pegado a pele, da comoção exacerbada,
do coisificar dos apegos,
das desculpas que nos apequena,
dos pressupostos alheios... que nos danifica.
Ainda... dá tempo...
Se o mundo é um lugar hostil,
que possamos mudar o nosso interior,
a inteligência que nos habita... a nossa alma...
e ter um lugar melhor para se viver,
um lugar de amor.

Ari Mota

sábado, 27 de junho de 2015

ENTERNECER A ALMA

Inexorável foi... chegar, até aqui... eu sei,
e tudo... culpa da minha teimosia.
Por diversas vezes... quase desmoronei,
e por um descuido... quase embruteci a alma,
mas... o que me salvou... foi a poesia.

Implacável foi... o tempo, efêmero... singular,
e tudo... quase me fugiu da percepção.
Por diversas vezes... quase fiquei sem esperançar,
e em todas as dúvidas que tive... conservei a calma,
mas... o que me salvou... foram os momentos de solidão.

Incompassível foi... achar-me, me entender, me... traduzir,
e tudo... foi quase desleixo... achava que não ia embora.
Por diversas vezes... tive medo de me descobrir,
e com todas as descobertas... eu... mais me... amava,
mas... o que me salvou... foi a pureza que me devora.

E em resiliência, me vi... assim, descortinando aos poucos,
e tudo... para enternecer a alma, e o que me conduz.
Por diversas vezes... transcendi aos poetas e aos loucos,
morri diversas vezes, mas... nas manhãs... me repaginava,
e em vez de consumir coisas... descobri o que me apetece... luz.

De todas as incertezas, a maior delas, sem me intimidar,
foi me perder por dentro... não foi, me perder pelo caminho.
Por diversas vezes... em desespero saí... para me encontrar,
quase me perdi... dentro de mim mesmo, quase fugi de mim,
mas... o que me salvou... foi que nunca fiquei sozinho.

Improvável é... encontrar dentro dessa velha alma,
que se renova de tempos em tempos... desarmonia.
Não padeço de tempestades, de lonjuras, vazios... sou pura calma,
hoje... tenho um ponto de equilíbrio, um porto a me esperar,
mas... o que me salvou... foi o meu silêncio, não sou mais ventania.

Este sou eu... não reflito nada além de mim,
e fui salvo pela solidão da poesia,
pela pureza que me devora,
pela luz que enternece a minha alma,
pelo silêncio... minha melhor companhia,
pela leveza que aqui... mora.
Este sou eu... e que toda a minha sagacidade,
seja sempre para mudar o melhor que tenho por dentro,
que eu não tente mudar ninguém,
nem o vento, ou as estrelas de lugar.
Que eu saiba... depois de um temporal,
colocar a alma para secar,
procure abraços, e nunca se esqueça de amar.

Ari Mota


segunda-feira, 1 de junho de 2015

SE TIVER QUE EXAURIR-SE... QUE SEJA DE AMOR

Se conseguir escolher...
escolha o silêncio.
Se suportar a quietude...
dance com a solidão.
Se não achar o caminho...
nunca volte.
Se a vicissitude esmurrar a alma...
abra todas as partes entranháveis de si mesmo,
e visceralmente suplante...
todos os momentos de aflição.
Se idear que a vida é um fardo...
um peso desmedido,
que tenha a coragem...
de fazê-la como plumas ao vento,
e que infinitamente...
saiba provocar risos, em vez de desespero,
e que nada exceda a sua leveza.
Que redirecione o sonho...
que saiba escolher novos atalhos,
procure novos amores, novos amigos,
mude de livros, de rua, de conceito...
e saiba buscar em tudo... beleza.
Se conseguir doar-se...
doe, da sua fonte inesgotável,
e o que falta...  é só incendiar a alma,
afoguear a gentileza.
Se conseguir amar...
que saiba preencher outros vazios...
vazios que nos devora, implacável dor...
que nos remete a solitude.
E que seja intensa essa entrega,
esse dar-se inteiramente,
que seja uma infinitude,
e que saiba render-se a essa delicadeza.
Se conseguir amar...
ame com toda a solidez e sem cansaço,
muitas das vezes o que falta... é só um abraço.
Se conseguir amar...
desapegue das perolas e brilhantes,
muitas das vezes o que falta... são flores,
pouco ou muito...
somos... a soma de todos os nossos amores.
Se conseguir amar... que seja com todo o esplendor,
e se tiver que exaurir-se... que seja de amor.

Ari Mota


segunda-feira, 11 de maio de 2015

TOMEI... O CAMINHO DO SOL

Por diversas vezes, me reuni com o destino,
e todas às vezes... nada aconteceu,
varávamos madrugadas... eu e ele,
às vezes ele me olhava com carinho,
outras vezes... com puro desdém,
eu falava ao vento, e ele ali... mudo,
inerte, contemplava a minha aflição,
e não esboçava nada com ninguém.
Eu... como tinha pressa de viver,
e, em um desses acesos de loucura,
tomei... o caminho do sol,
o abandonei em uma dessas esquinas que passei,
eu precisava dividir os sonhos e as minhas dúvidas,
compartilhar a minha solidão... e ir,
enfrentar as minhas tempestades,
sem temer o tempo que há de vir.
Por diversas vezes tentei falar com o meu destino,
e tentar, tirar dele... onde tudo isso... ia dar,
qual seria o final... em que porto... eu iria um dia parar.
Mas, de tudo, o que mais me tocou... foi o seu silêncio,
e bom mesmo, foi descobrir a sutileza do seu segredo,
“Que graça tem saber do fim”,
e assim, continuei, fui viver os meus entremeios,
sem saber o que estava reservado pra mim.
E isso me deixou... mais leve,
despojei-me das expectativas, e nada mais esperei.
E hoje, vou com pouca bagagem, e sem dramas,
desonerei a minha alma dos entulhos,
retirei os detritos, as sobras... só levo os inteiros,
e quase ninguém me acompanha,
exceto... uma bailarina louca, e duas borboletas,
que fazem da minha vida... a maior de todas as façanhas.
E assim... eu existo...
Sou apenas o tempo que medeia, o inicio do meu fim.
E entre eu, e o meu destino... acertamos, que nesse intervalo,
nessa exuberante passagem... um não deve olhar para o outro,
e que, ele apenas possa... levar-me, sem nada dizer... enfim.
Olha, quando tomei o caminho sol, sem nenhum desatino,
e tracei apenas o rumo... sem querer saber do meu destino,
uma luz acendeu dentro da minha alma, com todo o fulgor.
E assim quando querem me amesquinhar... viro silêncio,
quando derramam lagrimas, despejo alegria,
quando jogam desalento... apareço com a minha teimosia,
quando ensaiam ódio... e desalinho intenta... impor,
como tomei o caminho do sol e tudo é luz:
desforro com o meu amor.

Ari Mota

quarta-feira, 22 de abril de 2015

A CORAGEM... DE NÃO VITIMAR A ALMA

Existir é um acontecimento... e a vida... inefável,
tem-se que, não há quem a defina,
é mistério... é indizível,
somente os poetas e os loucos conseguem compreendê-la,
e o destino... traiçoeiro como é, não permitiu descrevê-la,
ficou perdida entre os delírios e a lucidez,
perdeu-se nas lonjuras da ilusão,
e ficou inenarrável.
Existir é um relâmpago inusitado... uns estalos... ocasionais,
somente os poetas e os loucos a sentem em demasia,
um... à estampa no seu riso descabido,
o outro... a descreve na sua poesia,
e ambos passam a brincar com essa insensatez,
e perdem-se ao meio da multidão... como anormais.
Existir é uma estrondosa... explosão,
fugaz como uma ventania,
somente os poetas e os loucos percebem o seu perfume,
um... a carrega como um vazio, ou outro... como solidão,
mas, ambos, conhecem o seu tamanho, o seu volume,
e saem por aí... um a verbaliza em poema,
o outro quase no abandono... vive em teimosia.
Existir é quase... tudo isso...
talvez, mais um tanto, ou menos tudo... ou nada disso,
é que de poeta e louco... eu acho que tenho um pouco.
E existir... é uma encantadora travessia,
uma imensa provocação em superar a si mesmo,
e impossível é... mensurar a sua pureza,
e fica indescritível a sua essência,
é apenas... um sonho contumaz... intenso enquanto dura,
e, bom mesmo...  é ir vivendo-a em silêncio,
como não conhecemos o começo, nem o tamanho do fim,
neste meio das coisas, e das dúvidas... e como aprendizes,
melhor mesmo... é que passemos por aqui... felizes.
Existir... quem sabe mesmo!... são os poetas e os loucos,
os outros... vivem colecionando coisas, e ressentimentos,
permitem que sua alma... entre nessa... de se vitimar,
acham que pouco fez ou que ainda tem muito que fazer,
desculpam, culpam... não assumem o direito de errar,
esquecem do inebriante desafio que é apenas viver.
Existir é... se rebrotar, reinventar-se com leveza,
sem inculpar a si mesmo às decisões do destino,
e sem desespero seguir... singular,
sem nenhum desatino, e como um menino,
inda... crer no abraço, no calor da pele,
na força da própria escolha,
no rastro... de amor, que deixar,
em sutileza.
Existir é... sem segredo,
jamais vitimar a alma, ou sacrificar o sonho,
por medo.

Ari Mota

segunda-feira, 6 de abril de 2015

A MINHA NATUREZA... É LIVRE

Demorei um tanto...
mas, foi na meninice que fiz uma descoberta,
e inda foi... nas minas gerais dos meus sonhos,
onde a aridez brincava de me esconder,
silenciar-me, em madrugadas de dúvidas,
ou, às vezes de insônia... em noites de solidão,
que um dia, desatento... encontrei a minha alma,
querendo ir embora,
e já, com a porta entreaberta.
Demorei um tanto...
mas, exprimido ao meio de tantos nãos,
e inda...  perdido naquelas tardes de abandono,
naquelas manhãs de incertezas,
com aqueles encontros em desacertos,
e procuras infinitas... pura sofreguidão,
que... deparei com minha alma, me... chamando,
puxando-me pelas mãos.
Demorei um tanto...
mas, um dia arrumei as malas,
um amor, duas borboletas...  e caí na estrada,
ficaram partes espalhadas pelo chão,
inda querendo ficar... e, até que voltei,
e sem jeito... juntei tudo... e me arrastei por inteiro,
e nada levei, e invisível... parti,
e não contei a ninguém... que fui ser feliz,
e tudo foi pura teimosia,
e hoje... esse desatino... virou  mansidão.
Demorei um tanto...
e faz tempo...quase uma vida,
para entender que o silêncio também é rebeldia,
e aquietei-me... em demasia,
e nenhum medo me estremeceu...  nem me aprisionou,
nem me abateu em pleno vôo, em pleno salto,
eu me atirei no inusitado, em ruas descalças, no asfalto,
nunca me importei com quem nunca quis saber quem eu sou,
nunca me importei com outros olhares, como quem me espia,
como quem me apequena...  julga-me ou condena,
comecei logo cedo... a desconstruir as minhas vaidades,
escolher os meus livros, os meus poemas,
as minhas musicas, o meu norte, os meus dilemas.
Demorei um tanto... pensei que não tinha fim,
para ouvir a minha alma, e aprender... nunca me abandonar,
e descobrir que minha natureza... é livre,
sou como... um rio descendo a serra, indo para o mar,
às vezes raso... corredeira, às vezes profundo, cachoeira,
viro brisa, contorno barreira, outras vezes sou aragem,
sou uma eterna viagem,
buscando o melhor ...
de mim.

Ari Mota

sexta-feira, 20 de março de 2015

OS MEUS CAPRICHOS

De todos os caprichos que tenho,
tem um, que me é... amar-me... incondicionalmente,
nutro-me... de poesia, e mansidão,
rego-me, com o orvalho das madrugadas em fantasia,
com a brisa invisível do meu silêncio,
e depois... adorno-me com as estrelas da minha imaginação,
cuido-me, replanto-me em todas as estações,
escoro-me com esteio... em todas as tempestades,
amparo-me... como se, improvável fosse o meu fim,
insisto tanto no meu reedificar...
que... fiz tudo do meu jeito... e  jamais desisti... de mim,
e repagino-me... sem sofreguidão.
Às vezes sou palco, sou platéia, sou bastidor, torcida de si mesmo,
e às vezes, sentado com o meu anjo, em fins de tarde,
peço-lhe:
Que, me... deixe sempre... a dúvida, e nunca a cisma,
e que a minha substancia seja sempre indefinida,
e que, eu... seja sempre um mistério,
e tenha sempre a liberdade de me procurar,
nos dias de desespero,
e nas noites de solidão,
e que, eu... seja sempre esta obra inacabada,
uma ponte que ainda não alcançou a outra margem,
mais, que nunca perdeu a velocidade de chegar,
nem que seja... a nenhum lugar,
que, eu... me veja... sempre... indo,
retocando-me, raspando as ferrugens,
aplicando uma demão de atrevimento nos meus sonhos,
buscando outros trajetos, sem perder a direção.
Que... em mim, exista sempre o desejo, de só... ir,
de mudar de rua, de consciência, de paradigma,
e a coragem de provocar sempre uma assepsia mental,
para nas partidas... nada levar...
nem ressentimentos, nem coisas... somente leveza,
e que minha lucidez demore a ir embora, partir,
e que eu possa ser sempre diferente... dos iguais,
e a minha alma... fique jovem para sempre,
e eu, me desapegue de toda e qualquer certeza.
Que, eu... seja ânsia descabida, fervor,
e que todo o ardor da descoberta... não me abandone,
nem o fulgor dos meus olhos apague... vire escuridão,
o que... quero é desentrevar o negrume dos meus medos,
e reiniciar-me... antes do próximo... vendaval.
Que, eu... nunca perca os meus caprichos,
e acima de outras tantas coisas,
nem a absoluta certeza da própria imperfeição,
mais, continue tendo a coragem de ser sempre amplidão,
e carregar dentro da alma... e para onde for,
o que tenho de excesso...
amor.

Ari Mota

sábado, 21 de fevereiro de 2015

FUI...TENTAR

Amo aqueles que se aventuram,
embrenham-se... destino afora,
e deixam sutilmente... tatuado no próprio sonho,
ou preso do lado de fora da alma...
um recado... simples assim: fui embora.
Fui tentar.
Fui repartir uma parte de mim,
fui me perder... com um... outro alguém.
Me... embebedar de delírios,
reconhecer as minhas loucuras,
enfrentar os meus temporais.
Fui... para não construir muros em minha volta,
ficar em desalinho.
Fui tentar... ter somente o que preciso...
não o que mereço,
fui ser feliz... nem que sejam lampejos,
instantes infinitos,
fui me apaixonar pela vida... só para me encontrar.
Amo quem mesmo distraído:
vai embora sem despedir,
quem não teve tempo para os desassossegos,
não conseguiu, nem sequer um minuto...
para as dúvidas,
e nunca chegou a descrer... do seu próprio caminho.
Amo... quem... desconecta de outros juízos,
e em silêncio nada pede, segue... vive em calma,
e vai embora... das coisas... dos desamores,
vai embora... dos seus medos,
vai embora... para ficar mais perto...
de quem na verdade... é,
vai embora para aprender a não ferir ninguém,
e sabe que depois de tudo...
só, dá mesmo... para levar:  a sutileza da alma.
Amo quem...
leva a vida aprendendo com os contrários,
e nas tempestades...  quando a vida sacode,
não se desespera... tranqüilo...  vira-se...
faz o que pode.
Amo... quem... foi ser o que decidiu... ser,
quem arrumou a alma para o inesperado,
sem jamais deixar no abandono... a si mesmo,
quem... semeia equilíbrio de maneira visceral,
e o que é superficial... não mexe com o seu interior,
transforma emoções instantâneas, em riso desmedido,
e atrevido... nunca diz:
o quê fazer para... que você me ame,
ama sem volta... sem troca... com a pureza do seu amor.
Amo... quem... sem desespero... vai embora,
e sem demora... deixa um recado do lado de fora da alma:
Fui tentar... ser feliz.

Ari Mota

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

BUSCO... QUEM GOSTA DO IMPOSSÍVEL

Foi nesta busca... do melhor pra mim,
que por um descuido... e distraído,
encontrei a minha alma entreaberta,
e tudo me foi permitido...
enveredei nas profundezas de mim mesmo,
despertei... este anjo adormecido,
esta leveza escondida, esta luz desmedida,
e tudo me foi crível,
e algumas das minhas verdades... descoberta.
Foi nesta busca... do melhor pra mim,
que me encontrei... e me vi assim...
um paradoxo descomunal:
frágil como um rochedo... enfrentado o mar,
dócil como um tigre... matando a própria fome,
violento como uma borboleta... provocando uma suave brisa,
destemido diante da solidão... a procura de alguém para amar,
e me descobri... profundamente raso,
escondendo o que tenho de... abissal.
Busco quem me passa coragem para viver este desatino,
amo os que já são felizes,
os que... como eu... emana um para o outro... sinergia,
sem vaidade... sem nada em troca, sem barganha descabida,
quem desassocia seus sonhos das expectativas alheias,
quem socorre o outro na travessia.
Busco... quem me faz crescer quando me apequeno,
quem me estica quando me diminuo,
quem me dá o colo... o olhar... quem me faz ir,
quem sabe abrir o peito nas tempestades ocasionais,
quem foge do volume morto desta sociedade em decadência,
quem me puxa... me levanta... me pega pela garganta,
e me estimula a prosseguir.
Busco... quem gosta do impossível,
de pouca bagagem... de nenhuma certeza,
dos que buscam uma terceira razão,
abortando as demais... só para evoluir.
Busco... aqueles que tentam de novo,
para ter tudo outra vez... sem medo,
daqueles que amam em quietude,
que chegam com brandura,
sem fazer segredo.
Bom mesmo foi... que nesta busca... do melhor pra mim,
por um descuido e distraído,
encontrei os meus amores... já felizes,
no seu interior.
Eu que busquei tanto... quis tanto,
cheguei a pensar que viver,
seria um intricar de coisas:
- E tudo me foi... muito fácil,
só tive que compartilhar...
- O meu amor.

Ari Mota

sábado, 17 de janeiro de 2015

DEPOIS DA VIDA...

De todos os caminhos... de todos os atalhos,
de todas as vezes que acertei o rumo...
ou das vezes que me perdi.
De todas as vezes que tentei voltar...
ou das vezes que apenas fui,
de todos os amores que tive... de todos os desencontros,
de todos os gritos que dei... de todo o silêncio... que fiz,
só agora... depois de envelhecido... me pergunto:
E depois da vida?
Depois desta passagem...
talvez eu descanse numa dessas estrelas,
que ficam ali... penduradas... acima dos meus desejos,
antes de continuar.
É que... fiz o que pude... ofereci o possível de mim...
sei que...  me, foi tênue existir...
e demorei... para me entender, encontrar,
quase sofri de vazios, quase virei solidão,
e tudo... me, foi fugaz... como uma tempestade,
até que minha alma escolheu viver,
e passei a semear candura... para evoluir,
e... virei mansidão.
E depois da vida?
Vou levar o que fiz nesta... e tenho me completado como posso,
faço alguns remendos nas asas... e mantenho o vôo,
evidentes são as nuances... de ficar ou ir,
sei que posso deixar resíduos... mesmo depois de partir:
Posso ficar na minha poesia,
na minha coragem de partilhar os sonhos,
na minha maneira tímida... de amar,
no meu cuidado em não machucar outras almas,
nem maltratar aqueles que passaram no meu caminho.
Nunca combati usando a fraqueza de alguém,
perdi diversas vezes... por lutar com os mais fortes,
e foi pura teimosia,
- é que... sempre estou entre o medo e a coragem,
e são essas resiliências... que me fazem... vivo,
das vezes que perdi... tudo ficou muito estranho,
eu que achava que iria diminuir... aumentei de tamanho.
E depois da vida? O que preciso...
estará tudo em mim, e não precisarei... ir a nenhum lugar...
a procura de um paraíso.
Terei relâmpagos ocasionais na memória, sem nada lembrar.
Talvez só sinta saudades... não sei do quê... não sei de quem,
não saiba quem fui... por onde passei... andei,
não saiba... mais dos meus amores,
mas... todas às vezes, em outras vidas:
que arder o peito... silenciar a alma,
saberei o quanto... vivi intensamente...
em outros lugares...
um grande amor.

Ari Mota